Economia

TRANSEXUAIS ENCONTRAM DIFERENTES DIFICULDADES NO ACESSO AO MERCADO DE TRABALHO

Joanne Hilda relata que transgêneros precisam driblar desafios mesmo após conseguir o tão sonhado emprego

A população transexual (pessoas cuja identidade de gênero não corresponde ao seu sexo biológico) é uma das que mais sofrem para conseguir inserção no mercado de trabalho formal. A sobrevivência desse grupo nas ruas é uma grande realidade. Segundo uma estimativa feita pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), cerca de 90% de pessoas transexuais recorrem à prostituição em algum momento da vida. 

Com a falta de apoio da família, sem formação adequada e aliada ao preconceito das empresas, muitos nem passam por um processo seletivo e aqueles que conseguem sofrem preconceito e discriminação durante a seleção. Esconder a identidade de gênero para passar em um recrutamento e conseguir aceitação no trabalho, é um dos artifícios de defesa que acabam se tornando comuns.

Lutando contra o preconceito e buscando seu lugar de direito na sociedade, Joanne Hilda, mulher transexual, conta que já trabalhou em alguns empregos formais onde passou por diversas dificuldades. Atualmente, trabalhando como autônoma, ela compartilha como foi a aceitação da sua transexualidade no ambiente profissional e os preconceitos que sofreu durante esse caminho. 

Joanne passou por diversos preconceitos no ambiente profissional e decidiu trabalhar como autônoma na área culinária

Você já encontrou alguma dificuldade para conseguir emprego por ser uma mulher transexual?

Participei de uma entrevista em uma empresa que dizia respeitar pessoas transexuais e quando eu me apresentei, senti um descaso por parte dos recrutadores. Já precisei interpretar uma identidade social masculina para poder ser aceita em um recrutamento. 

Você se sentia respeitada no seu ambiente de trabalho?

Eu não me sentia respeitada, muitas vezes, o assunto identidade de gênero ainda causa confusão em algumas pessoas, principalmente mais velhas. Já ouvi deboche de supervisores e colegas de trabalho, mas depois com o tempo, com conversa e paciência, as pessoas começam a respeitar. Isso tem muito a ver com a maneira como nos posicionamos diante das situações. Em certos momentos, precisamos ter estômago e jogo de cintura para conseguir lidar. 

Nas empresas em que você trabalhou era permitido usar seu nome social?

“Nos meus empregos com carteira registrada, eu não podia ter o nome social no crachá e tinha que atender com o meu nome de nascimento. Esse foi um dos motivos para eu decidir virar autônoma, pois há uma grande dificuldade em ser reconhecida como quem somos. ”

Você já sofreu algum preconceito ou discriminação no trabalho?

Em todas as empresas em que eu trabalhei, passei por alguma situação de preconceito ou discriminação. Em relação a usar o banheiro correspondente ao meu gênero, já tive que ouvir de funcionários que eu não era uma mulher e que não podia usar o banheiro feminino.

O que você acredita que precisa mudar para que a discriminação e o preconceito diminuam no ambiente profissional?

Precisa ter mais políticas LGBTQIA+ e ser ensinado nas escolas sobre identidade de gênero, para que as próximas gerações já venham com essa consciência. As mulheres transexuais também precisam de apoio para sair dessa realidade de prostituição. E cabe também a sociedade se conscientizar, compreender e respeitar. Porque é isso que todos nós queremos, ser respeitados por quem nós somos.

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