Os escândalos de apostas de Tonali e Fagioli

Sandro Tonali e Nicolo Fagioli (Imagem: Goal)

O jogador da Juventus, Nicoló Fagioli, e o ex-Milan, hoje no Newcastle Sandro Tonali, receberam punições da Federação Italiana, nas últimas semanas, por fazerem apostas esportivas na temporada passada.

O jornalista formado pela Universidade de São Paulo, César Costa, que atualmente é produtor de conteúdo na Esportudo, PlayGreen e também é colaborador da Calciopédia, grupo especializado em futebol italiano, que, também já trabalhou na revista Veja SP, concedeu uma entrevista ao Fut Itália para nos dar mais detalhes sobre o assunto.

César Costa (Arquivo Pessoal)
César Costa (Arquivo Pessoal)

Qual lei determina que os atletas sejam punidos por fazerem as apostas?

Bem, existem leis em âmbito nacional e internacional. Dá para ir pelo caminho mais fácil, que são as leis da FIFA (Federação Internacional de Futebol Associado), a autoridade máxima no futebol. De acordo com a entidade, todos os jogadores estão proibidos de participarem ativamente ou até indiretamente de apostas esportivas. As penas variam muito podendo chegar até três anos de suspensão do esporte.

Como o assunto é futebol italiano, o Código de Justiça Desportiva da Itália também proíbe qualquer um com envolvimento em um clube de apostar em sua própria modalidade.

Como surgiram as denúncias para estes atletas por terem feito as apostas?

A origem desse caso não é das melhores. No começo de outubro, Fabrizio Corona acusou uma série de jogadores italianos de terem feito apostas esportivas em plataformas ilegais. O primeiro problema é: quem é Fabrizio Corona?

Portanto, em poucas palavras, uma pessoa de baixa confiabilidade. É um paparazzo que já foi condenado por extorsão e inclusive esteve muito tempo fora dos holofotes por estar preso. O que não faltam são crimes para esse charlatão nato. Acima de tudo, ele estava disposto a fazer tudo para voltar à cena, e começou a soltar nomes de supostos envolvidos com apostas. Porém, realmente alguns deles acabaram se confirmando.

Essas acusações em si tinham muito pouco valor, mas foram nelas que começaram as investigações da Procuradoria de Turim, órgão italiano responsável pelo caso. Alguns acusados foram descartados logo de cara, como o de Stephen El Shaarawy, Federico Gatti e Nicolò Casale. Outros, tiveram que prestar depoimentos. Especificamente, Nicolò Fagioli se entregou logo de cara e topou ajudar nas investigações.

Fagioli admitiu que usava a plataforma ilegal, que estava tendo problemas de vício e até mesmo ficando endividado por causa dela. Chegou a pedir empréstimos a colegas de equipe e a ser ameaçado. Nesse sentido, ele colaborou desde o início, nunca apostou em jogos dos times onde atuou e por isso teve a pena abrandada.

Sandro Tonali foi igualmente colaborativo, nunca negou envolvimento e também declarou ter problemas de ludopatia. Já Zaniolo, por exemplo, afirma só ter apostado em jogos de azar, nada de apostas esportivas, no entanto, o jogador segue atuando e ainda prestará depoimentos, já que, não há pressa no seu caso.

Akém deles, tem o Nicola Zalewski. Desde o começo o atleta da Roma negou qualquer envolvimento com as apostas e inclusive deve processar Corona na justiça. O TuttoSport ainda conta que um homem que se apresentou como informante de Fabrizio afirmou para o jornal que inventou a história de que Nicola apostava só para receber 20 mil euros do ex-paparazzo.

Qual a punição para cada um desses atletas?

Começando pelos mais simples: Zaniolo ainda deve ser investigado mais a fundo, mas pelo que sua defesa diz, ele nunca apostou em jogos de futebol, então dificilmente terá alguma punição. O outro que também não deve ter nenhum problema é Zalewski. Ainda não surgiu nenhuma prova contra ele.

Fagioli é o único caso 100% concluído até agora. Ele ficará sete meses suspenso do futebol sem poder atuar com mais cinco meses de penas comutativas. São elas: ao menos seis meses de terapia para seu problema de ludopatia e também dará palestras para clubes amadores e pessoas com problemas de vício em apostas.

O caso do Tonali não foi encerrado até nossa entrevista, porém, bem encaminhado. Ao que tudo indica, sua pena será bem semelhante a de Fagioli, com 10 meses de suspensão do futebol e outros distribuídos em penas alternativas, como terapia.

Na sua opinião, você acha que as punições foram exageradas ou concorda com elas, e por quê?

Talvez eu tenha o coração mole, ou seja, muito inocente, entretanto, para mim, a partir do momento que se comprovou ser um problema de saúde mental e que todas as apostas que Tonali e Fagioli fizeram não foram com más intenções, não vejo sentido em afastá-los por tanto tempo do futebol.

Eu concordo absolutamente com a parte dos tratamentos, especialmente da terapia, algo tão preterido no universo do futebol. Falta esse cuidado com a cabeça do jogador, de sua formação como ser humano, e esse escândalo das apostas esportivas é mais um exemplo de como a falta de instrução e educação para as ‘super estrelas’ pode ser autodestrutivo.

O quanto é ruim para o futebol Italiano esse escândalo na sua visão?

Não acho que é algo que vai manchar a imagem do futebol italiano. Por exemplo, na Premier League, Toney também foi suspenso por apostar, enaquanto Lucas Paquetá está sendo investigado na Inglaterra. Nesse meio tempo, no futebol brasileiro tivemos coisas até piores como jogadores forçando cartões em esquemas…

Esse universo das apostas esportivas é idealizado para ser tentador, é feito para ser divertido e prazeroso. Logo, imagina um jogador que é o tempo todo bombardeado com esses sites e aplicativos? Uma vez que, esteja em um momento maior de fragilidade, precisa de um deslize para entrar nesse mundo, antes que seja um caminho sem volta.

Então, assim, não é um problema localizado.

Vimos que, nos casos de Tonali e Zaniolo ambos confessaram o vício em apostas. O que a Federação poderia fazer para ajudar a promover a prevenção ao vício em apostas?

Imagino que o primeiro passo seja a orientação. O próprio Fagioli pode ser alguém para falar sobre isso para futuras gerações, dar seu depoimento e o quanto as apostas foram maléficas para sua carreira. Ele entre outros jogadores. Desse modo, ouvir de alguém que passou por isso pode transmitir muito bem a mensagem.

Precisa de apoio psicológico e também, como disse antes, instrução.

Acha que depois deste acontecimento e das punições, os atletas terão mais consciência sobre fazer apostas?

Honestamente? Não sei. Consciência é uma palavra forte (risos). Com certeza um pé atrás. Se alguém vivia pensando ‘ah, nunca vai dar em nada’, vai mudar essa ideia. Se alguém faz, talvez esteja pensando em parar o quanto antes para não ser outro nome no noticiário.

E se alguém está com problemas de vício, que essas histórias sejam um gatilho para procurar ajuda.

 

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