Autismo

Autista adulto e a descoberta tardia

Confira a entrevista com Sueli Agneli, autista adulta que recebeu o diagnóstico na fase adulta
Sueli Agneli, 23 anos, autista adulta

Sueli, autista adulta, conversa sobre etapas simples da vida mas que se tornam um verdadeiro desafio para uma adulta diagnosticada com autismo tardiamente.

Sueli, como foi sua infância sem saber que era autista?

– Bem conturbada. Tanto de noção quanto na saúde, eu tinha bastante asma. Tinha outros problemas, só que minha socialização era nível 0, então eu sofria muito bullying na escola. Eu tinha amigos, tinha poucos amigos, era bem restrito, gostava muito de ler, lia o dia inteiro, mas não sabia que era autista.

Como era lidar com isso?

– Muito diferente, porque eu sempre tentava me enturmar e toda vez que eu tentava parecia que eu tinha falado uma besteira ou feito alguma coisa errada, então isso me gerava muita ansiedade pra conversar com as pessoas, e aí eu fui ficando mais retraída, mais tímida.

Como foi sua adolescência?

– Eu queria me encaixar e aí eu tentava fazer de tudo. Tentava um grupo que eu achava que ia me dar bem e eu não me dava. Eu via as meninas se arrumando, se maquiando, se vestindo, eu tentava fazer e não me sentia confortável, era como se eu tentasse viver uma vida que não era minha e era muito exaustivo.

 

Como você recebeu o diagnóstico?

– Foi na pandemia, eu estava com receio da depressão e aí eu queria uma explicação do porquê que eu estava sentindo tudo isso. Na pandemia o que me afetou mais foi ter que voltar a sair, eu queria ficar em casa. Eu queria entender porque eu não queria mais sair, aí eu comecei a não conseguir mais sair sozinha. Então fui procurar o diagnóstico pra saber porque eu estava agindo diferente.

 

E como foi após receber o diagnóstico?

– Me senti aliviada, porque agora tem uma explicação do porque eu era diferente, consegui entender também a minha infância, eu consegui me perdoar porque era uma coisa que eu me culpava muito, por muitos erros que eu cometi na minha infância, adolescência e eu não me perdoava, achava que era muito tonta. E agora eu entendo que era minha maneira, a maneira como meu cérebro funciona.

 

Como é para você lidar com os estudos, mercado de trabalho?

– Muito difícil, nos estudos geralmente eu não tive muito suporte então isso faz com que eu tenha tanta dificuldade que eu acabo desistindo, no trabalho a mesma coisa, é um esforço muito grande para estar ali, pra fazer o certo, aí chega um determinado momento que dá uma exaustão e aí não tinha acessibilidade ou as pessoas olhavam e falavam “não você não é autista, porque você fala, você olha no olho, você é casada, estuda, não pode ser autista.”

 

E no seu convívio social, como as pessoas reagem a seu diagnóstico?

– Eu não queria cura, eu queria acolhimento, ser ouvida, eu até cheguei a falar pra pessoa que não queria cura, e que essa era eu, e que precisava apenas de acolhimento.
Falam “nossa não parece, você não tem cara”. Mas eu penso “como é ter cara?” porque essa é a minha cara e eu sou autista, então não tem uma cara específica.

 

Quais são suas maiores dificuldades hoje como autista?

– A questão de verbalizar às vezes eu até tento falar o que estou sentindo mas não consigo transmitir e a socialização, poder sair, poder ir no mercado fazer compra sozinha, conversar com todo mundo, não consigo, tem que ter sempre alguém pra me ajudar, pra me dar um suporte, pra eu não me sentir tão perdida e conseguir pôr a minha cabeça em ordem. Porque sozinha é muito estímulo.

Você vai atravessar a rua aí tem que prestar atenção no carro, aí também tem buzina, e tudo ao mesmo tempo, então por isso eu sempre ando acompanhada. Às vezes é muito ruim, porque a pessoa tem que mudar toda uma rotina para me acompanhar, pela lógica seria bem mais fácil se eu fosse sozinha, mas eu não consigo.

 

E qual singularidade no autismo você enxerga de forma positiva em você?

– Hiperfoco, quando estou com hiperfoco em algo, eu pesquiso e descubro curiosidades. Atualmente meu hiperfoco é Harry Potter, então eu descobri várias coisas sobre o filme, cenas deletadas, é bem legal essa parte. Porque quando foco em algo, eu estudo muito. Dentro do próprio autismo eu estudei muito, sobre a psicologia.

 

Como você enxerga o futuro?

– O futuro assusta, no meu caso como autista assusta muito porque é muito imprevisível, não tem uma previsibilidade, não tem como saber como minha vida vai ser, com o que eu vou trabalhar, então não sei como é e por não saber, assusta.

 

Como as pessoas devem tratar adultos autistas?

-Escutar as pessoas que tem autismo e não invalidar, quando a pessoa disser pra você que tem autismo ela não quer dó, ela não quer ser infantilizada, não quer cura, ela só quer acolhimento.

 

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