Os impactos da ciência na vida humana

O método científico, presente em diversas áreas do conhecimento, transforma pesquisas acadêmicas em soluções que afetam diretamente o dia a dia de milhões de pessoas

A ciência está muitas vezes associada a laboratórios isolados, onde pesquisadores de jaleco branco realizam experimentos aparentemente distantes do cotidiano das pessoas. No entanto, as descobertas científicas moldam o mundo ao nosso redor, da forma como nos alimentamos à maneira como nos relacionamos com as tecnologias. Para entender como isso ocorre, é preciso primeiro conhecer o que sustenta as pesquisas em diferentes campos: o método científico.

Esse processo envolve a formulação de hipóteses, a realização de experimentos controlados e a análise de dados, sempre com o objetivo de chegar a conclusões verificáveis. Embora o processo seja o mesmo em vários campos do conhecimento, o impacto das descobertas difere conforme a área, mas mostra que a ciência está em constante diálogo com o cotidiano. Três especialistas de áreas distintas — Química, Psicologia e Agricultura — nos ajudam a entender essa conexão.

O que une pesquisas tão distintas? Para além do método científico que sustenta todas elas, o ponto comum entre a química, a psicologia e a agronomia é o impacto prático que essas áreas têm sobre o desenvolvimento social. O que está sendo estudado nas universidades hoje poderá mudar o modo como vivemos amanhã.

A química nos traz inovações tecnológicas que vão desde produtos mais sustentáveis até medicamentos mais eficazes. A psicologia ajuda a compreender os desafios mentais de uma sociedade cada vez mais conectada digitalmente. E a agronomia oferece soluções para alimentar uma população em crescimento sem sacrificar o meio ambiente. Cada descoberta, independentemente da área, encontra seu caminho para a vida prática, seja através de novas tecnologias, políticas públicas ou mudanças de hábitos.

Do laboratório ao produto final

A química, uma ciência pura e aplicada que se enquadra em uma ciência básica, conecta diferentes ramos do conhecimento, oferecendo soluções para problemas que vão desde a saúde até o meio ambiente. Para Felipe Gonçalves, químico e pesquisador de pós-doutorado no Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP, os avanços em sua área são resultado direto de anos de pesquisa e muitos testes.

“No laboratório, investigamos a criação de novos materiais que possam substituir os atuais, especialmente quando se trata de alternativas mais sustentáveis,” explica Gonçalves. Recentemente, seu trabalho focou na síntese de polímeros recicláveis, um avanço que pode transformar a indústria de plásticos. “Estamos lidando com um problema global. O plástico convencional não é biodegradável, mas nossos novos polímeros, que apresentam um potencial de serem reciclados infinitamente, podem mudar isso.”

O pesquisador ainda detalha como a química aplicada se traduz em benefícios diretos para a sociedade. “A maioria das pessoas não percebe que produtos do dia a dia, como embalagens, cosméticos e até medicamentos, são fruto de décadas de pesquisa em química. Quando criamos materiais novos, estamos ajudando indústrias inteiras a se tornarem mais eficientes e menos poluentes.”

Ao falar sobre o impacto de suas pesquisas, Gonçalves afirma que o desenvolvimento de polímeros recicláveis também diminui o uso de recursos naturais, gerando menos lixo. “É uma questão de reduzir a pegada ambiental e, ao mesmo tempo, oferecer materiais mais baratos e eficientes para o mercado”, destaca.

Compreendendo o comportamento em uma era digital

Se a química transforma materiais, a psicologia transforma o entendimento do comportamento humano. Com o avanço das redes sociais e o aumento das interações digitais, a pesquisa em psicologia ganhou ainda mais relevância. André Guilherme Tavares da Silva, doutorando na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP)  pela USP, concentra seus estudos nas mudanças comportamentais decorrentes do uso excessivo de plataformas digitais, especialmente entre jovens.

“Vivemos em um momento em que a conexão online se tornou parte fundamental da vida de adolescentes. Porém, os efeitos dessas interações não são sempre positivos,” alerta Silva. “Nosso estudo, realizado com estudantes de ensino médio, mostrou que o tempo excessivo nas redes sociais pode aumentar a ansiedade e gerar problemas de autoestima, especialmente nas meninas.”

Segundo Silva, os resultados dessas pesquisas são utilizados para criar programas de intervenção em escolas. “Levamos os dados obtidos diretamente para professores e orientadores. A partir dessas informações, criamos estratégias de conscientização que ajudam os alunos a usar as telas de forma mais saudável,” explica.

O impacto não se limita à sala de aula. As descobertas nessa área também influenciam a maneira como as políticas públicas são formuladas, especialmente no que diz respeito à saúde mental de adolescentes. “Muitas vezes, pensamos que apenas questões de saúde física são urgentes, mas a saúde mental precisa de igual atenção. As redes sociais não vão desaparecer, mas precisamos ensinar as pessoas a lidar com elas de forma mais equilibrada,” conclui.

Plantar o futuro com sustentabilidade

Na área da engenharia agronômica, as pesquisas estão focadas em um dos desafios mais urgentes do século XXI: como alimentar uma população crescente sem esgotar os recursos naturais. Wilson Geraldo Pereira Neto, mestre pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, é especialista em técnicas agrícolas que aumentam a produtividade sem recorrer a agrotóxicos. Seus estudos buscam soluções sustentáveis que beneficiam tanto os produtores quanto o meio ambiente.

“Estamos desenvolvendo métodos que utilizam microorganismos para controlar pragas e melhorar a qualidade do solo, em vez dos chamados defensivos agrícolas. Isso é importante porque a demanda por alimentos está crescendo, mas não podemos continuar prejudicando o solo ou a saúde pública com o aparecimento, por exemplo, de novos organismos patogênicos resistentes aos medicamentos,” explica Pereira. Ele acrescenta que os resultados obtidos com esses biofertilizantes têm sido promissores, permitindo colheitas mais volumosas em uma mesma quantidade de terra, além de serem mais sustentáveis.

Pereira destaca que essa abordagem mais natural na agricultura também beneficia o consumidor final. “Quando falamos de alimentação saudável, não estamos apenas nos referindo à qualidade do alimento, mas também ao impacto que sua produção tem no ecossistema. Um solo rico em biodiversidade oferece alimentos mais nutritivos,” comenta o pesquisador.

Ele também ressalta o papel das universidades na criação de soluções práticas. “As pesquisas que realizamos aqui em Piracicaba não são apenas teóricas. Desenvolvemos técnicas que podem ser aplicadas por agricultores em larga escala, sempre visando a preservação ambiental,” afirma.

As pesquisas científicas, longe de serem um exercício acadêmico isolado, são a chave para o progresso social. O método científico, comum a todas as disciplinas, garante que cada descoberta seja fruto de um processo rigoroso, gerando dados confiáveis que podem ser aplicados em benefício da sociedade. Ao compreender o impacto dessas pesquisas em áreas como a química, psicologia e agronomia, torna-se claro que a ciência não está distante de nós — ela faz parte de tudo o que vivemos, estando presente em nosso cotidiano de maneiras que, muitas vezes, não percebemos.

 

Confira no player abaixo como a ciência também afeta a biologia e a saúde com o estudo das superbactérias:

 

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