Fake news e a democracia

Entenda como a desinformação e a manipulação de informações afetam os processos democráticos e a importância de uma comunicação crítica e responsável

Para o tema de hoje eu conversei com o professor e advogado Luiz Eugenio Scarpino Júnior, doutor em comunicação no Brasil e na Itália. Confira a entrevista abaixo:

Eduardo Nazaré: Professor, ao abordar a ciência, muitas pessoas associam o tema a laboratórios e experimentos. Em suas pesquisas sobre comunicação e Direito Eleitoral, quais pontos são essenciais destacar?

Luiz Eugenio Scarpino Júnior: É curioso, Eduardo, porque, diferente do que muitos imaginam, as pesquisas em Direito e comunicação não envolvem jalecos ou experimentos dramáticos, mas sim um profundo trabalho de análise e leitura. O foco recai sobre a compreensão de discursos, estatísticas e a correlação de informações históricas com o contexto atual. Esse método permite compreender fenômenos como a desinformação, exigindo um rigor semelhante ao das ciências naturais, mas voltado à interpretação de normas jurídicas e suas aplicações na sociedade.

O termo ‘fake news’ tornou-se comum, especialmente em períodos eleitorais. Quais características marcam essas táticas de desinformação? Existem diferentes tipos?

Luiz Eugenio: A desinformação, conhecida como disinformation, é planejada com o propósito de enganar deliberadamente. Diferentemente da misinformation, que ocorre sem intenção de induzir ao erro, a desinformação possui um componente de má-fé. Utiliza elementos descontextualizados para manipular percepções. Um exemplo seria um vídeo antigo compartilhado como recente para criar impressões equivocadas e incitar reações emocionais. Essa prática geralmente busca desestabilizar adversários políticos ou promover a desconfiança pública.

A polarização política surge como consequência direta dessa desinformação?

Luiz Eugenio: Nem sempre. A polarização pode fazer parte de uma democracia onde ideias opostas coexistem e se debatem. No entanto, a desinformação amplifica esse fenômeno ao promover uma narrativa de ‘amigo versus inimigo’, que transforma adversários em inimigos a serem derrotados a qualquer custo. Essa dinâmica ultrapassa o debate saudável e compromete a confiança em instituições e no processo democrático.

Nos seus estudos é possível entender como influenciadores digitais e figuras públicas contribuem para a disseminação de informações equivocadas?

Luiz Eugenio: Personalidades com grande alcance conseguem influenciar diretamente seus seguidores. Seja um radialista, apresentador ou uma estrela da internet, a confiança conquistada facilita a aceitação de suas mensagens. Esse efeito torna-se perigoso quando aliado à desinformação, pois o alcance se multiplica rapidamente. As redes sociais amplificam esse fenômeno, exigindo mais atenção à verificação e à educação midiática para combater informações falsas.

No contexto atual, como tecnologias como deepfakes interferem nesse cenário?

Luiz Eugenio: Tecnologias como os deepfakes possibilitam a criação de vídeos e áudios que imitam figuras públicas de forma convincente, distorcendo a verdade de maneira eficaz. Essa inovação amplia a disseminação de fake news e gera confusão, levando à descrença em fontes confiáveis. Por isso, é fundamental que as pessoas desenvolvam um ceticismo saudável e busquem confirmar informações com fontes seguras e especializadas, como a ciência.

Quais são suas considerações finais sobre como enfrentar esse desafio?

Luiz Eugenio: Acredito ser necessário uma educação que fomente o pensamento crítico e a verificação dos fatos é indispensável. A confiança na ciência e no jornalismo ético precisa ser reforçada. Encontrar um equilíbrio entre o ceticismo e a busca pelo conhecimento ajuda a fortalecer a democracia e impede que a desinformação perpetue divisões. Por fim, acredito ser importante confiarmos na pesquisa e em pesquisadores sérios que utilizam uma metodologia bem delineada para entender esses episódios de desinformação.

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