Pensar na opinião alheia antes mesmo de saber se você gostou ou não do reflexo do espelho, é uma atitude comum, mas que não deveria ter palco. Nesta entrevista ping-pong, o ex-BBB 23, modelo e influenciador digital, Gabriel Tavares, de 26 anos, compartilha sua visão sobre o mundo da moda. Natural de Ribeirão Preto, Tavares sempre esteve em contato com esse universo, mas, com o passar do tempo e as etapas da trajetória, a moda só aflorou mais dentro dele.
Leia a entrevista abaixo e descubra uma nova perspectiva sobre a moda:
Gabriel, como surgiu seu interesse pela moda e o que despertou essa conexão em você?
Então, o meu interesse pela moda, eu acho que, na verdade, sempre esteve comigo, fui uma criança que se preocupava se estava confortável com o que vestia, um cara muito preocupado com o meu cabelo. Lembro de uma época da escola que a gente jogava bola no intervalo e eu voltava tudo suado para aula. Então, já me senti um pouco na autoestima ali, uma vaidade. Isso sempre esteve entrelaçado comigo. Mas eu acho que quando eu fui para Floripa e comecei a entender outros estilos, a sair um pouco dessa bolha de São Paulo em que eu vivia, eu comecei a entender outras outras formas de se expressar pela moda, e foi aí que eu comecei a entender o que eu gostava, o que eu não gostava, o que eu achava bonito, o que eu não achava, o que me deixava confortável. Enfim, a partir do momento que eu fui para Floripa, a minha cabeça se expandiu. Os meus olhares se expandiram. Depois eu fui para o programa, tive mais acessos, networking mesmo, financeiramente minha situação melhorou, então consegui ter outras coisas que antes eu não conseguiria ter.
Você tem um estilo ou tendência que considera seu favorito? O que faz você se identificar com essa escolha?
Cara, eu acho que eu não tenho um estilo específico, não sei nem se pode ser considerado estilo, mas assim, o tipo de roupa que eu uso são a maioria streetwear, são coisas mais confortáveis, são roupas de uma gramatura maior. Eu me expresso muito pela forma que eu me visto, então dependendo do meu mood, um dia eu estou mais colorido, outro dia mais preto, branco e cinza, mas eu acho que o que me faz de identificar com o estilo ou com uma roupa ou com uma peça específica é o conforto que ela me traz, e o conforto que ela me traz no cenário em que eu estiver. Eu jamais colocaria uma calça de moletom para ir num evento beneficente social. Apesar dela me deixar confortável, ela não vai estar confortável dentro do cenário que eu estiver. Mas acho que o que faz eu me identificar, além de estética, cores e tecido, é o conforto. Para mim, se eu não estiver confortável não vale a pena.
De que maneira a experiência no BBB influenciou sua relação com a moda e a forma como se apresenta como influenciador?
O Big Brother me fez subir alguns degraus que eu iria demorar, talvez a vida inteira para conseguir. O primeiro deles que eu consigo trazer aqui é o São Paulo Fashion Week. Eu fiz o São Paulo Fashion Week por uma relevância que o programa tem, talvez eu estaria lá um dia, mas talvez eu iria demorar muito mais para chegar, se não fosse o programa. Fora isso, eu acho que o reality show me influenciou de uma certa forma a abrir mais os meus horizontes. Por exemplo, eu consegui ter mais oportunidades de networking, mais oportunidades financeiras para comprar uma peça que antes eu não tinha condições ou para comprar um acessório, uma joia. O programa conseguiu em todas as frentes abrir portas e fechar também, porque uma se abre e outras se fecham, mas assim, em termos gerais, a influência do programa representa muito na forma como me visto hoje por tudo que eu passei lá. Eu me tornei um cara muito mais maduro depois do programa, a minha forma de vestir se tornou mais madura, eu sinto que a cada dia que passa eu estou me tornando um cara um pouco mais sério e transmitindo isso no meu jeito de vestir. Tem coisas que eu usava a seis meses atrás e hoje em dia já não combinam mais comigo, é uma eterna mudança, uma eterna evolução, não tem certo ou errado, mas a ideia é que vocês estejam sempre em movimento para marcar épocas. Então, há seis meses, eu usava um boné cor-de-rosa. Essa cor não me favorece tanto, mas há seis meses ela me favorecia. É mais ou menos como eu lido um pouco com as tatuagens. Ela marca uma era, uma peça marca um espaço da minha vida.
Quais ícones ou influências de estilo tiveram um impacto significativo em sua estética?
Eu poderia citar várias influências, várias pessoas que me influenciaram desde quando eu fui para Florianópolis, até hoje. Me influenciaram na forma que eu me visto, na forma que eu me porto, na forma que eu me comunico, mas eu acho que a maior influência de todas que eu tive foi e é o Mateus Verdelho. Assim como eu, ele veio de Ribeirão Preto, ele teve a mesma trajetória que eu, passou por um programa de reality show também e, fora a moda, o Mateus ele me inspira em termos familiares, ele tem uma família linda, ele me inspira de diversas formas. Mas trazendo para a moda, o Mateus tem um estilo muito versátil e eu me considero um cara muito versátil também, consigo me adaptar de acordo com o que o local solicita, entendeu? O local, o evento, o cenário. Então, tem dia que o Mateus está vestindo uma bermuda, com uma regata amarela, um tênis vermelho misturado e que talvez em outra pessoa sem atitude não caberia, mas para ele, para mim, personalidades fortes que não estão nem aí para o que as pessoas vão falar ou pensar, a gente meio que tenta se expressar pela roupa ali. O Mateus em todos os cenários ele me inspira, ele sabe disso, já conversei diversas vezes com ele e eu queria chegar onde ele chegou, não em termos financeiros, mas assim, ele fez uma carreira a Europa como modelo, eu estou me programando para isso, ele fez São Paulo Fashion Week, eu já fiz também. Agora só falta casar e ter três filhos.
Como você decide o que vestir para diferentes ocasiões, especialmente agora que é uma figura pública?
Eu acho que a decisão de escolher um look, uma peça específica, tem que conversar muito com o cenário para onde você está indo. Depende muito da proposta do evento e muito da proposta do local. Eu também sou um cara muito indeciso, então eu não consigo, por exemplo: ‘daqui duas semanas, eu vou ter um evento x. Ah, eu vou com essa roupa.’ Eu posso até separar um look, mas assim, chega no dia eu estou em outra vibe, querendo vestir outra coisa e aí eu vou colocando a roupa no corpo até achar o look ideal para mim. Então, por exemplo, separei uma parte de cima, uma parte de baixo e um sapato, aí eu vou vestir ela no dia ali: ‘pô, essa camiseta não ficou legal. Acho que eu vou puxar uma mais para um tom de preto, um tom mais escuro ou um tom mais claro.’ E aí eu vou fazendo esse Frankenstein aí de decisões na hora até eu me sentir confortável e falar ‘não, é isso aqui, e estou bonito, me sentindo confortável, à vontade.’ E aí a gente vai.
Qual foi o look que mais o marcou em um evento? O que ele representa para você?
O look que mais me marcou em um evento foi em um evento lá no Copacabana Palace, no ano passado. Era um evento mais chique, mais social, terno e gravata, Baile do Copa. Eu lancei um conjunto de terno, meio que parecia o terno do Messi, ele era cheio de bolinha e me marcou porque foi um evento, em termos de produção, que eu mais me preparei. Fiz um conteúdo antes com fotógrafo, vesti a roupa antes para fazer as fotos. Lancei um gel no cabelo que fazia muitos anos que eu não fazia isso, então meu cabelo estava todo lambido para trás, bem James Bond. Foi um evento que me marcou pelo tamanho que era, nunca tinha participado de um evento no Copacabana, tinha acabado de sair do programa também, então os flashes estavam todos lá e isso foi muito legal para mim. Minhas irmãs foram comigo também, isso é um ponto, porque até hoje acho que foi só esse evento que a minha família chegou a ir comigo. Então o Baile do Copa 2023 me marcou bastante.
Como foi sua relação com a moda durante o programa? Você conseguiu programar todas as roupas que gostaria de usar?
Cara, no programa não consegui me programar para ir com roupas, com looks que eu falei: ‘nossa esse look aqui eu vou usar em tal festa, esse aqui eu vou usar em tal lugar’, porque eu não tinha tanta condições de de ter vários looks, de ter produção de roupa, de styles. Eu fui sem saber de nada, eu só queria ficar milionário e ir embora. Inclusive, eles dão roupas. Porque tem toda uma questão de procedimento ali de não aparecer marca, não pode ter nenhuma imagem, tem que ser uma peça totalmente lisa, então na época, eles me forraram de roupas. Se eu não me engano era Riachuelo, não vou lembrar agora, mas roupas simples, básicas. Então, lá no programa, querendo ou não, meu estilo era muito simples, era calça ou shorts, camiseta, no máximo um boné, um gorro, não tinha muita produção em si.
Na sua opinião, como a moda pode impactar a autoconfiança de uma pessoa? Você já vivenciou essa conexão?
Olha, eu acho que a moda é uma via de mão dupla. Ao mesmo tempo em que ela pode te dar autoconfiança, também pode te tirar. Mas a partir do momento em que você sabe usar a sua autoconfiança a seu favor, isso te valoriza muito, porque aí você pode vestir o que quiser, onde quiser, no lugar que você quiser. Não tem certo ou errado, mas você consegue sustentar um look, sustentar uma peça e se sentir confiante ao mesmo tempo. Eu acho que ainda não cheguei no suprassumo da autoconfiança. Tem coisas que eu coloco e não me sinto confiante para usar. Acho que quem alcança isso, cara, não importa o que esteja rolando na moda, no mundo da moda, o cara vai estar vestindo de acordo com o que ele pensa. Eu não tenho esse potencial ainda, mas pretendo atingir isso um dia: usar o que quiser e me sentir confortável com isso. Já melhorei muito. Você sabe como é, né? No meio onde eu nasci, a galera tem a cabeça muito fechada. Graças a Deus, já desenvolvi uma mentalidade mais aberta. Consigo usar, sei lá, uma saia. Tenho uma saia de alfaiataria linda aqui, que ainda nem usei, mas é algo que sei que consigo vestir sem me sentir desconfortável. É todo um processo, mas tem que tomar cuidado para não buscar essa autoconfiança e acabar trazendo isso à tona de uma forma negativa.
Como você percebe a relação entre moda e identidade? Acredita que as roupas podem contar uma história sobre a pessoa que as veste?
Cara, eu acho que as roupas, as vestimentas, os acessórios, tudo que está no seu corpo, é um cartão de visita para as outras pessoas, para o lugar que você está indo. Imagine que uma pessoa não te conheça. E aí você está com uma roupa toda preta, fechada, com o rosto coberto, um capuz. Você vai se passar como uma pessoa mais reclusa, mais retraída. Na minha interpretação, é uma pessoa mais introvertida. Agora, se você usa uma peça mais chamativa, alguma coisa mais extrovertida, você muda essa identidade.
Então, eu acho que a moda transmite o que você sente, o que você quer transmitir, e ela consegue te dar um cartão de visitas, um pré-conceito do que aquela pessoa é ou pode ser. Não em 100% dos casos, mas, assim, tende a ser assim. Eu acredito que a forma com que você se veste é o primeiro, é o primeiro know-how da pessoa ao te conhecer. Eu acho que, no primeiro momento, são alguns cenários específicos em que a forma com que você se veste interfere em um primeiro momento ali. Eu, por exemplo, quando vou para Ribeirão, pô, eu tenho uma carinha de menininho. Se eu não coloco uma roupa mais bad boy, por exemplo, se aparecem as minhas tatuagens, a galera já vai me tratar de outra forma. Rola um preconceito ainda com isso, principalmente em Ribeirão. Se eu for com as roupas que eu visto aqui em São Paulo, você sabe como é, né? Então, eu acho que tem todo esse trabalho de identidade ali, de contar uma história sobre você mesmo.
O que você acredita que torna um look realmente significativo? Existem elementos que considera essenciais?
Eu acredito que um look significativo, o próprio enunciado já diz, é um look, então é uma composição de peças. Mas, se fosse para pensar em uma peça que é essencial para mim, eu gosto de calças. Eu acho que, com uma calça maneira, uma calça mais trabalhada, com uma parte de cima mais clean, um sapato ou um tênis mais clean também, chama mais atenção. Na minha visão é uma forma de chamar atenção de maneira mais indireta, porque, por exemplo, uma camiseta mais diferente já é algo muito mais rebuscado.
Como você se mantém atualizado sobre as tendências de moda atuais e como isso influencia suas escolhas?
Cara, hoje em dia eu criei um flow muito natural para mim. Todo network que eu criei, eu consigo pegar algumas referências de influências de amigos, de colegas. É difícil sair pesquisando. Muito raro, pô. Às vezes eu jogo no YouTube, a galera lá de Nova York, da Espanha, eu sempre trago algumas influências de fora. Mas eu acho que, sobre tendência de moda atual, tem um aplicativo que eu uso chamado Goat. Posso até te mandar um print aqui, porque é um aplicativo facinho. Ali você vai mexendo, tem até alguns looks. Tem algumas páginas no Instagram também: Uniforme Display, que são gringos trazendo alguns looks diferentes, algumas peças. Então, eu acho que eu não penso para procurar tendência. Só se for algo muito específico. Mas eu acho que isso se tornou natural para mim. Eu estou sempre consumindo moda, e isso acaba ficando no inconsciente. Aí, quando eu vou me vestir, eu penso: ‘Nossa, lembro de alguma foto que vi no Instagram de algum cara maluco da gringa’, e falo: ‘Eu tenho uma peça parecida. Vou usar isso, isso, isso.’ Eu acho que fica meio que inconsciente assim, a busca por tendência. Não é inconsciente, mas eu não faço uma prospecção ativa. Eu faço uma coisa mais reativa, acaba chegando até mim.
Que mensagem você gostaria de transmitir aos leitores do blog e seus seguidores sobre a importância da autoexpressão através da moda, especialmente no contexto das redes sociais?
A mensagem que eu gosto de passar e que quero passar aqui para vocês é meio clichê, mas acho que é a mais pertinente de todas: a importância da autoexpressão. Você se torna uma pessoa muito melhor consigo mesma. Então, deixe de prestar atenção no que as outras pessoas vão pensar sobre você ou, ‘o que será que a minha avó vai pensar sobre essa saia que eu estou usando?’. Cara, só usa a saia, se ela te faz sentir confortável, sério, se você acha bonito, se você acha que vai gostar de usar, use! A autoconfiança em você mesmo só vem com a sua autoexpressão. Então, se você se tornar uma pessoa retraída, que não se expressa através da roupa ou dos acessórios, acaba se tornando uma pessoa que segue a manada, que segue um fluxo de pessoas que justamente não têm essa autoconfiança, que não se expressam através da moda. Mas, assim, quero deixar um ponto bem delicado: o mundo real é diferente do mundo da internet. A partir do momento que você usa suas peças no mundo real, ninguém vai falar nada para você na rua. Ninguém vai falar nada na sua cara. Isso não existe. Só que tomem cuidado na hora de passar essa expressão para as redes sociais. Estejam cientes de que, dentro de uma plataforma de mídia social, você pode receber julgamentos que não estava esperando. Você tomando cuidado nas mídias sociais e conseguindo sustentar a onda, falando eu vou postar aqui porque esse é o meu estilo’ – que é o certo a se fazer, não é uma obrigatoriedade, tem gente que nem tem rede social. Mas, se você conseguir extrapolar essa barreira das redes sociais, cara, ninguém te para. Você vai vestir o que quiser, vai postar o que quiser. Eu já consegui alcançar esse suprassumo de não ligar para as pessoas há muito tempo, mas eu sei como é difícil. Já passei por várias barras na internet, coisas que no mundo real não existem, eu garanto para vocês. Então, se eu puder deixar um resumo da minha mensagem aqui, é: seja você mesmo, use você mesmo, use as suas próprias roupas, as que você goste e viva a vida de uma forma tranquila e natural, sem se preocupar com o que o Tião do gás vai achar da sua saia de alfaiataria, tá bom? Um beijão, pessoal.