Inovar é o princípio das passarelas. E como as passarelas são um espelho da moda que circula pelas ruas, consequentemente, essa essência se aplica fora dos desfiles também. Mas como inovar se tantas ideias já foram tiradas do papel? “A customização permite uma grande variedade de alterações em peças de roupa e acessórios, se tornando uma oportunidade para extravasar a criatividade”, afirma Cheyenne Cordeiro, figurinista e docente na área de Moda. Peças e acessórios, como bolsas e sapatos, que já perderam o hype podem ser incrementadas ou até mesmo modificadas com o uso de lenços, broches, crochês e muito mais.
Atualmente, a sustentabilidade tem sido uma pauta de várias facetas: em conversas de elevador sobre o clima, em debates políticos e no mundo da moda, por meio da reutilização de roupas, estilização, etc. O upcycling – em português: ‘reciclagem’ – é uma técnica que aplica essas conversas na moda, e a customização de roupas, uma alternativa para colocar em prática esse conceito.
Segundo a professora, a customização trata-se de uma ferramenta acessível por não demandar grandes investimentos, podendo ser feita com materiais encontrados em casa, como alfinetes, cintos, fitas, ou mesmo a peça de roupa escolhida para a customização. “Isso contribui para uma cultura sustentável, pois evita o descarte têxtil e o desperdício, dois grandes problemas ambientais ligados à moda”, argumenta.
Além disso, Cordeiro revela sobre iniciativas que induzem a sustentabilidade na moda com foco na customização, como a Fashion Revolution, um movimento que promove anualmente ações ligadas à sustentabilidade na moda. “O projeto cria oficinas e palestras em diversas cidades com ensino de técnicas de customização e pautas de conscientização ambiental. Alguns perfis nas redes sociais reúnem ideias de customização em vídeos, com diversas referências criativas, como o caso do perfil da Elisa Chanan”, explica a figurinista.
Customização à obra
As redes sociais são um dos principais caminhos para induzir a moda para às pessoas. As peças que saem das passarelas passam pelas celebridades, que divulgam na internet, até chegar aos seus seguidores. No Tik Tok, por exemplo, vídeos DIY (Do It Yourself) – na tradução: ‘Faça Você Mesmo’ – se popularizaram ao mostrarem o passo a passo de customizações de roupas. Para a estilista e influenciadora Marcela Tumas, os tipos mais populares hoje são a personalização das peças de forma mais básica como a aplicações, recortes simples, amarrações e o upcycling. “São maneiras de personalização que se tornam cada vez mais famosas na internet e são relativamente simples de serem feitas”, aponta.
Para quem deseja começar a customizar as roupas em casa, a influenciadora traz dois caminhos: técnicas de tingimento para quem quer algo fácil e rápido e customizações com bordados e apliques para quem pretende se dedicar mais. “O principal desafio é ser criativa, é conseguir enxergar naquela peça uma noiva coisa, um novo estilo e depois colocar a mão na massa. Muitas vezes, pode não sair exatamente do jeito como imaginamos, mas aí temos que sempre ir reinventando nossas ideias. A principal recompensa é você saber que aquela peça só você tem e que ela transmite vários aspectos da sua personalidade, porque você colocou toda sua criatividade naquilo. A sensação de usar uma ‘criação’ própria é demais!”, assegura.
Somado a isso, Fernando Gigante, designer de moda e professor de modelagem e costura, com conhecimentos em desenvolvimento de coleções, compartilha sua experiência sobre customização. Ele ressalta que o processo pode ser feito com técnicas como costura, bordado e aplicações, incluindo crochê. “Primeiramente, é importante escolher as pedrarias, se for usar pedras, ou bordados de linha. Escolha também o desenho — pode ser um patch ou renda que pode ser rebordado”, explica. Os patches, segundo Fernando, podem ser comprados prontos ou recortados, e são aplicáveis em malhas ou tecidos planos.
Quanto ao tingimento, ele observa que “pode ser feito em materiais de algodão ou sintéticos, mas é essencial escolher as tintas adequadas para cada tipo”. O designer ainda aconselha para quem está começando o uso de costuras básicas, como fazer barra e utilizar acabamentos simples, já que acabamentos mais complexos requerem conhecimento técnico e experiência. “Um erro comum é não ter conhecimento técnico de costura, resultando em peças com aspecto grosseiro e mal acabadas. Para um bom resultado, talvez seja necessário procurar um profissional capacitado”, acrescenta. Ele dividiu também experiências em customização de t-shirts com aplicações de patches e bordados, e conclui dizendo que as customizações podem ser feitas também em jeans e camisas, utilizando diversas técnicas, incluindo bordado, costura, tingimento e silk.