Entrevista com jornalista Lúcio Mendes, irmão da expressão Come-Fogo 

Jornalista de mesmo nome batizou rivalidade entre Comercial e Botafogo em 1954, em sua coluna no Jornal da Manhã

No dia 19 de dezembro de 1954, o jornalista Lúcio Mendes ficou encarregado de escrever a coluna do dia no Jornal Diário da Manhã. Nesta data, estava marcado o primeiro clássico entre Comercial e Botafogo após 18 anos, já que o Comercial voltou um ano antes, uma  vez que tinha encerrado as atividades em 1937, por conta dos seus investidores, ligados à indústria cafeeira, terem sofrido com os desdobramentos da Crise de 1929. Com a junção dos dois nomes, foi batizada uma das rivalidades mais tradicionais do Brasil: o Come-Fogo.

Seu filho, também batizado Lúcio Mendes, sobrinho do radialista Silvério Neto, seguiu a carreira de repórter, por influência do pai, que o levava ao trabalho desde criança. A entrevista conta as circunstâncias da partida e como o nome pegou.

O seu pai chegou a revelar o que passou na cabeça dele ao juntar os dois nomes para nomear a rivalidade?

Lúcio Mendes – A comunicação era muito diferente, aqui em Ribeirão Preto, na época, tinha quatro ou cinco jornais, se eu não me engano. Um deles era o Diário da Manhã Esportivo. E meu pai, que já era locutor esportivo nessa época, e também o cara que escrevia sobre esportes no jornal. Um belo dia ele acordou e falou, vou escrever sobre esse clássico da cidade, que já tinha muito burburinho sobre isso, era uma expectativa da cidade. E ele escreveu, nós teremos um clássico envolvendo as duas forças da cidade agora, o ressurgimento do Comercial para enfrentar o Botafogo, e vale dizer que nós teremos, então, um clássico Come-Fogo, e pegou.

O contexto da volta do Comercial ajudou a potencializar o jeito que o nome ficou gravado na cabeça das pessoas?

Lúcio Mendes – Com o retorno do Comercial, em uma cidade que na época já tinha uns 50 mil habitantes, era uma questão de torcidas divididas. O Comercial já tinha uma história pregressa. Terminou o jogo, um empate por 1 a 1, Mariporã que abriu o placar para o Comercial, a torcida nas arquibancadas do Luiz Pereira já gritava Come-Fogo, então ficou bem gravado.

Como era a atmosfera do Come-Fogo, como a cidade se comportava?

Lúcio Mendes – Quando possuíam bons times, como Comercial de 1966, que tinha Jair Bala, Piter, Peixinho e Paulo Bin, e depois o Botafogo, em 1977, outro timaço.Havia um programa que chamava Balanga Beiço, apresentado pelo Tiririca e o Corauci Neto, que era policial, mas que tirava sarro das situações. Quando tinha Come-Fogo, o Tiririca era botafoguense e o Corauci comercialino, e eles tiravam onda falando que se tal time ganhasse o outro tinha que comer grama da Praça XV, era um barato e isso ajudou a popularizar o clássico. Naquela época, apesar da tiração de sarro e da grande energia nos encontros das torcidas, não havia violência igual hoje.

Como você avalia a importância do Come-Fogo, você acha que perdeu essa força?

Lúcio Mendes – O nome Come-Fogo pegou tanto, que a Revista Placar na década de 1970 fez uma edição com os clássicos mais importantes do Brasil. O Come-Fogo estava lá, junto Dérbi, Fla-Flu e Grenal. Hoje, eu gostaria muito que tivesse esse peso, mas é difícil, a situação do Comercial é muito complicada, acredito que precisaria se transformar em SAF, até hoje não sei porque não é, são muitas dívidas trabalhistas. Só a torcida não é suficiente. Além disso, se não fosse a S/A (Sociedade Anônima), o Botafogo não estaria disputando a Série B, mas é a realidade do futebol.

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